quinta-feira, 28 de agosto de 2025

 

Fumaça e Raiva

A fumaça sobe,
e é como se voltasse
de um transe eterno.

Escrever não é fácil,
mas me obrigam a isto.

As coisas não estão
fáceis para ninguém.
E eu fui um dos escolhidos.

A vida há de nos cobrar
por aquilo que evitamos
por anos.

Eu estou preparado,
só de raiva.

 

Outro dia, fostes tu

Outro dia, fostes tu,
embebedada de saudades,
que gorfou esperanças perdidas
e aluou um novo dia
em plena segunda-feira.

Minutos andando
por caminhos longos
de vidas que ainda estão
só no começo.

Sandálias vermelhas de poeira,
deixando marcas do cabresto nos pés.

O governo disse que não passarias,
e mesmo assim você passou.
Deixando por aí
fios de teus cabelos de revolta.

Cada esquina da cidade
sabe um pouquinho de nós:
um espelho maravilhoso
de como cagamos pras nossas regras.

Na rua não temos tempo,
temos que estar
um passo à frente.

Outro dia, fostes tu
— e não acompanhei.
Fiquei de longe,
onde ficam os poetas,
só observando.

quarta-feira, 27 de agosto de 2025

 

Borrões e Espetáculos

Já vivi isso algumas vezes,
e isso me causa alguns problemas.

Ninguém entende,
nem eu mesmo.
Mas fazer o quê?

Eu vou mudar isso,
um dia.

Porque à noite eu durmo
e não gosto de ser importunado.

Talvez assim eles entendam.
Os últimos que conheci
tive que desenhar.

Ninguém acredita mais em nada.
Tratamento cansado pelo cotidiano.

Vou mudar meus desenhos.
O real não existe.
Então, qualquer borrão
será um espetáculo pra mim.

terça-feira, 26 de agosto de 2025

 

Éden / End

Que este ÉDEN,
não me PARADISE,
nem me IDEM,
como tantos foram, END.

A árvore da verdade,
seus frutos redondos,
o fruto da politicagem,
seus grandes rebanhos.

MIND, cérebro,
SET são poucos,
e, aos poucos,
os porcos abrem os esgotos.

Chuva, chuva, chuva,
muita água,
enchente que lava.

Nenhum rodo seca.
Para disso
tem me deixado tão DOWN.

 

A velha casa de madeira

A velha casa de madeira.
Ninguém se lembrará dela.

A rua de terra,
os matos altos por falta de casa.

Momentos sem saber
o que no mundo tramavam.

Um momento difícil
justamente na sua vez de ser adulto.

A casa cheia de espelhos
para não ser um culto.

Encaro a imagem de si,
a velha imagem
da casa de madeira.

Que ninguém se lembrará.

 CAPÍTULO 3 – A ORGANIZAÇÃO DOS EDUCADORES E SUAS PROPOSTAS

Este capítulo apresenta uma pesquisa iniciada na PUC de São Paulo em 1986 e concluída na USP em 1991, intitulada “O Educador Brasileiro e a Luta pela sua Organização: suas entidades, suas propostas, sua participação na construção de educação democrática, autonomia, pluralidade e distância de formação.”

Na primeira parte, os pesquisadores apresentam um panorama histórico de grupos que se organizaram em 1924 e após 1964 para discutir os rumos da educação. Contudo, já nessa seção, evidencia-se um equívoco: pesquisas conduzidas sem um compromisso antirracista diante da eugenia que permeava o que eles denominam “educação democrática”.

Por exemplo, citam que em 1924 surgem as primeiras ações da ABE (Associação Brasileira de Educação). Entretanto, esquecem que, nesse mesmo período, existia um planejamento eugenista no Brasil, liderado por nomes influentes como Rui Barbosa e Monteiro Lobato. Essas políticas, embora chamadas democráticas, não abrangiam a população negra e indígena — a maioria do país — e direcionavam a educação ao embranquecimento ideológico, uma lógica que persiste até hoje.

Outros exemplos citados pela pesquisa são as diversas siglas que surgiram durante o golpe militar de 1964, para discutir as diretrizes da educação no pós-64. Aqui, novamente, evidencia-se a falta de responsabilidade em relação à política antirracista. Apesar de o título da pesquisa mencionar pluralidade, não há referência aos movimentos negros que se fortaleceram nesse período, como o TEN (Teatro Experimental do Negro), criado pelo professor Abdias do Nascimento, que defendia uma educação afrocentrada em pleno contexto eugênico.

Também é ignorado que as bases das reformas educacionais pós-64 se apoiavam na chamada “teoria do milagre grego”, cujo objetivo era europeizar e embranquecer a população brasileira, predominantemente negra. Prova disso é que somente em 2003 e 2006, mais de cem anos após a abolição, tornou-se obrigatório o ensino da história da África e dos povos indígenas na educação pública formal — temas ainda negligenciados nas diversas conferências educacionais do país.

No ponto 3, a pesquisa apresenta as associações que se mobilizaram e suas reivindicações pela educação brasileira. Mais uma vez, nota-se a ausência de interesse pelas políticas desenvolvidas pelos grupos de organização da população negra no Brasil. Organizações como o TEN e os jornais negros do início do século XX demonstravam engajamento e ação na construção de uma educação realmente democrática e antirracista.

Jerry Davila, em Diploma de Brancura: Política Social e Racial no Brasil (1917-1945), publicada em 2006, oferece uma análise comprometida da correlação entre raça, nacionalismo e eugenia nas políticas educacionais brasileiras, mostrando como estas se fundamentavam nas teses eugênicas e na ideia de “curar” a população através de um diploma de brancura. Segundo Davila:

“Para os educadores brasileiros e sua geração intelectual, raça não é um fator biológico, era uma metáfora que se acompanhava para descrever o passado, o presente e o futuro da nação brasileira. A negritude era tratada em linguagem freudiana como primitiva, prelógica e infantil” (Davila, 2006, p. 25).

A educadora Célia Aparecida Rocha, no texto A Ressignificação da Eugenia na Educação, 1946-1970: um estudo sobre a construção do discurso eugênico na formação docente (2010), complementa:

“Para a inserção da eugenia na educação no período pós-guerra, foi preciso ressignificá-la anexando predicativos positivos com base na moral cristã, nos direitos humanos e na saúde individual. Nesse processo, foi importante representá-la como ciência purgada do extremismo nazista, racista e classista. Tal ressignificação procurava desautorizar sua aplicação de modo negativo (aborto, esterilização e extermínio) e incrementar sua imagem positiva de ciência apoiada no campo da neutralidade científica, desvinculando-a dos fundamentos da eugenia extremada” (Rocha, 2010, pp. 443-444).

 

 

Tela e Presença

Passo o tempo calado,
mas louco para alguém chamar.
Nem sei o que é pra falar.

A questão é a presença:
a tela é o que mais me aproxima dela.

Presente!
Cadê os estudantes?
Quantos não via nem pela tela.
O peito aperta.
Eu só queria saber o que se passa.

O olhar na tela acusa,
meu reflexo nela,
ocupando este espaço
deixado pelo vírus.

Os dispositivos,
que antes eram nossos inimigos,
hoje são os principais aliados.

 

Paulo Freire me contou

A educação precisa
do ser humano.

O ser humano se educa
na troca.
Não só nas ciências,
mas também nas poucas
palavras de conforto
ditas em um assunto
mais delicado.

Como as direções
que ministério e secretarias
têm nos imposto:
tudo acontecendo
ao mesmo tempo.

Jovens e velhos
vivem o tormento.

Paulo Freire,
jogado ao relento,
me contou.

  Profecia Eis que surge o homem, imperfeito, sem saber. Quebrando as correntes, caminha sem ver. Eis que surge o homem, pra lá, depoi...