quinta-feira, 30 de março de 2017





Um homem só tem
uma chance de fazer
algo eterno.

Na maioria das vezes
estamos cobertos de
nossas merdas diárias.

Mas um dia
quando menos
esperar.

Algo eterno fará você.

Uma chance
e tudo para dar errado.
BOSTA

Eu sou um bosta!
Não, bostas são honestas
e fazem seu trabalho direito.
Quanto a mim?
Eu não sei fazer merda nenhum,
sempre consigo foder tudo no fim.
Isso quando não começo já fudendo
no inicio.
Acho que sou isso!

Um espaço em branco,
que só ocupa um espaço.
Luz do poste,
eu sentado.
Rua deserta,
acendo o baseado.

E esse ônibus
que não chega?

*
Muito deles não sabem que
carrego meus sonhos no
bolso da calça.
Escritos em blocos de papeis
nos intervalos da lucidez.

Cai a noite e sopra o vento frio.

Cheio de sacolas, com o
pai, a mãe e a bolsa
a tira colo.

Carro forte para transportar
tanta gente, tanta grana.
MATAM, MATAM,
MATAM, MATAM
MATAM, MATAM

TODOS OS POETAS

MATAM, MATAM
MATAM, MATAM
MATAM, MATAM.
O pesadelo
visagem dos sonhos
meu medo.

Você indo embora
sem mim.

Acolá
onde não exista
eu.

Seu sonho.
CIÚMES

Eu tenho ciúmes do sol que te acorda.
Eu tenho ciúmes da noite que te faz dormir.
Eu tenho ciúmes do cobertor que te aquece.
Eu tenho ciúmes dos teus pés, que ainda te fazem seguir.

Tenho ciúmes das tuas roupas.
Tenho ciúmes dos teus sonhos.
Tenho ciúmes de tudo isso,
porque á eles, tu pertences.

Tenho ciúmes dos teus antigos amores,
porque á eles, um dia deste amor.
Tenho ciúmes, mas escondo.
Porque só me faz feliz,
te adorar, te olhar e te fazer feliz.

Tenho ciúmes deste mundo,
que te ganhaste logo ao nascer.
Afinal, tu és livre.
Mas eu, estou preso a ti.

A morte era iminente 
e ela estava direitamente ligada ao
seu caminho.

Um pré-requisito sem o qual
não se pode falar 
em existência.
Com ou sem
SAL
só me
AZEITE.
Folhas de livros desdobradas,
no bater daquele seio,
suspeito que tem muita ambição.

Sente amargo prazer quando sofre.
E a imagem da virgem nas
águas do mar, a divina
Consuelo.

Outra diferença havia: era que
Eduardo cultivava a poesia
quando as cifras lhe permitiam.

Com este proposito recolheu-se
no gabinete, e ali recordou-se
de tudo que havia acontecido
desde que chegara em casa.
Os dedos
correm, correm.

- Eis o que eu quero!

O dedo da desgraça
afastou-se.

- Eis o teu leito de bodas,
  boa-noite!
Dar uma geral na cozinha
e vê o que tem.
Deixamos nossas bagagens
guardadas no guarda-volumes.
Nós damos, pegamos e partimos
ziguezagueando por todos os lados
nessa complicação incrivelmente pura.
Minha tia, uma mulher respeitável,
ás voltas com esse mundo melancolico,
lançou seu uivo em direção ao teto,
para além dele, rumo as estrelas e
ainda mais longe.
Com aquele êxtase complacente
de quem passou por uma análise
reichiana, e que não significava
nada além de muita maconha,
comidas açucaradas e algumas
enlouquecidas eventuais.
The Gamer

Faça sua jogada.
A roupa certa,
A pessoa certa,
A escolha certa,
Faça sua jogada.
Lampião ou parafina,
Maconha ou cocaína,
Sua casa ou a minha,
Faça a sua jogada.
Arroz com feijão,
Companhia ou solidão,
Ganância ou dá o pão,
Faça a sua jogada.
Esse é o jogo da vida
e ele não é um tabuleiro.
Experimente-se.
Auto-Retrato

Dois olhos, uma boca
tudo na normalidade,
no peito um coração 
e atrás uma cidade.
Feito do açaí, adorado pelo pequi,
você sabe onde está e eu não sei
pra onde ir.
Do Pará pra Goiânia são três dias
de viagem.
Foi minha mãe que pagou a passagem.
Já fiz muita coisa e errei até...
Na minha vida não tem escolha
to aceitando o que vier.
De Auto-Retrato só a foto,
porque o fato é o que sou pessoalmente.
ESTE LAMBE É PRA VOCÊ

Os lambes encontrados 
na tua rua. 
Há muito tempo já não
falam sobre mim.
Minha vida escorre
agora, nas faixadas
do prédios,
no muros e terrenos baldios.
Penso se estarei sendo enganado
e trocado por outras
estações.
A música da cidade ainda
pulsa por entre os becos,
no automóveis.
Vejo velhos com fone de ouvido.
Me pergunto o que fazes quando
não estou contigo?
Perco o tempo vendendo
minhas balas nos sinais.
Me distraio na dança das
mãos dos casais.
Quero ter 24 horas
de você.
Já não tenho mais
meus spray's,
minha poesia pulsa
como os pulsos
que pulsam meu coração.
Você agora está com sua
família.
Me encontro agora num dos
muitos becos dessa cidade
fumando meu beck,
estrategicamente,
esperando que você
venha me encontrar.
Nos papéis jogados
Pelo chão, se encontra
só uma inspiração.
O nome da mesma
mulher está,
nos muros,
nos lambes,
nos graffiti's
e em mim.
Termino meu último
lambe, e finjo não ver
nele está escrito.
"Este lambe é pra você."
Vivendo das impurezas, perdido nas vicinais, sou eu o trocado. Quando esperaram liso, vim listrado, sou eu o solitário. Quando fui embora por me sentir só, encontrei abrigo na solidão. Vi coisas das quais não me desprendi, voltei e hoje estou aqui. Quando resolvi viver a solidão me abraçou, pedi pra que eu ficasse com ela e eu disse: EU NÃO VOU!

OS DEDOS DO MEU IRMÃO

Meu irmão sempre foi 
um ótimo amigo.
Com ele dividi toda
minha infância.
Hoje vivo tão longe
não falo com ele.
Lembro que ele era o
Gênio de casa.
Lembro que ele era na dele.
Mais tinha amigos pra valer.
Meu irmão tem um coração bom.
Ainda hoje aguentar todas as reclamações
de meu pai, aprendeu a perdoar.
Meu irmão ama a vidinha que leva,
Não quer sair de Altamira nunca.
Olho pra minhas mãos e o vejo,
e cada linha é uma história,
um momento.
Eu o amo.
Eis aí, o que a saudade
me ousou a fazer.
MARIA

O silêncio,
o mais alto dos gritos.
Nada consegue decifrar
o maior amor de todos.
A saudade,
o melhor abraço que há.
Ainda demorarás que
um dia estejas aqui.
A presença,
momento único do amor.
Mãe receba meu abraço,
por favor.
MANIFESTO VOMITARISTA
Essa é a carta de abertura.
Está na roda o abre-alas dos escritos vomitantes.
A escritura por meio do gorfo sentimental.
A caneta como garganta e o papel como boca.
Todos os sentimentos poéticos atirados a esmo na folha
Na cara, na rua, nos muros, às traças.
O estilo criminoso do ato de escrever.
O artista chafariz da inquietação do estômago-neurônio.
Artistas vermes dos resíduos da calcinação dos ossos do corpo do poema.
O potente sistema de absorção.
De reabsorção onde o verso se torna vômito.
Aqui onde se engole seco o fedor da inconsistência.
A Vomitária está lançada.
(ao meio dia de hoje)
ATM/GYN*
Condutas
morais,
alíquotas
financeiras
e
uma vida
para ser vivida.
Como costume,
estilo
ou
doutrina religiosa.
Uma linha
tênue entre
você e
eu.
A NOITE NA VARANDA
Sem ela,
não teria fugido daquela casa,
não teria enchido meu corpo 
de tatuagens, porque as dores
eram fracas se comparadas as
lembranças que a noite na varanda
produzia.
Sem ela,
não teria feito meus poemas de amor,
nem gritado pelos muros dessa cidade,
pois é o que me deixa vivo
e o que te deixa excitada.
Jamais teria conhecido o Rio,
levado baculejo na praia
enquanto escrevia um poema.
Eles jamais deveriam ter levado
aquela ponta.
Foi a noite na varanda
que me trouxe de volta
que me fez falar
que fez você ouvir
e falar.
E eu te beijar
e a gente se amar.
A noite na varanda,
teria sido um erro?
*
Então você disse adeus
e seus olhos viraram
em outra direção.
Novamente estava eu
só, sem sequer um beijo.
Minhas mãos que outro
dia andavam por suas curvas
hoje já sentem saudades
de quando você simplesmente
as segurava e dizia
nunca mais soltar.
Quisera eu poder te levar comigo
ou ir contigo aonde você quisesse
me levar.
Então você disse adeus
e negou diante de mim
tudo que sentes,
não deu importância
para minha importância,
pediu para eu ficar.
Sugeri partir para outro lugar
e me apoio a distância,
não exitou em destruir
e esquecer tudo que aconteceu.
Seu gosto ainda está entalado
na garganta e não consigo
respirar.
*
Era chuva
e eu tinha você
nos meus braços.
Debaixo da sombrinha
nos colávamos 
fugindo de nós dois.
No tempo que eu
vivia na casa dos outros,
comendo com os outros
e esquecendo de mim.
Você dizia para
esperar e eu ansioso
te amava.
Incessantemente
te amava.
Não corria pelos
becos, não gritava
por aí.
Meu silêncio era seu.
Você tentou,
eu sabotei.
Você ficou,
eu fugi.
Era chuva
e eu estava na porta
da sua casa.
Do lado de dentro
você me dá adeus,
e a chuva lava minh'alma.
Caminho pelas ruas
que sempre levam
para o mesmo lugar
da pequena Goiânia.
Espero-a atônito e percebo 
que estou de braços postos
às costas e a cabeça baixa.
Levanto a cabeça e ao longe
você vêm,
como quem vêm até mim
e cruzo os braços
para parecer descolado.
O sol é quente no Cerrado.
Só não mais quente que
o teu abraço,
o laço dos
teu braços.
Você sorri
percebe meu erro
sabe que te conheço
o caminhar,
o toque da mãos
a dor no peito
a solidão.
Vinda
via
Anhanguera
Eixão
os ônibus
e como veias
que pulsavam
o sangue
para as suas mãos
quando elas
tocam meu coração.
E se espanta,
quando num salto
ele lhe toca
O silêncio
da aproximação,
o constrangimento
da invasão.
O toque.
Voltei e acabei levando ele ate o apartamento e lhe coloquei numa ducha. Jessica o colocou na cama e quando voltou me despedi.
- Acho que já deu. O filho da puta aí me atrapalhou num momento importante.
- Não quer um café?
- Eu não tomo café.
Não era questão de princípios.
Acho que ela não entendeu. Percebeu minha inércia e me beijou. Sua boca tinha gosto de balinha de cereja, sua saliva era cremosa e usava sua língua com voracidade. Minhas mãos foram até seus seios e os protegi contra qualquer homem que desejaria ou já desejou chupar aqueles peitos Virei-a de costas e a pressionei contra a parede. Minha mão acariciou sua boceta e ela levou sua mão ao meu pau.
Ela o colocava na boca, ocupava cada espaço. Não aguentei, gozei na sua boca.
Jéssica correu ao banheiro, escovou os dentes. Encontrei em sua geladeira uma Coca aberta e me servi. Quando Jéssica voltou me despedi. Ela me acompanhou até a porta e de lá esperou o elevador chegar.
Depois de uns segundos o elevador chegou.
Olhei para Jéssica.
Ela disse :
- Você é o melhor poeta do mundo.
Parti rumo ao T.
*A NOSSA LIBIDO
Demente
meus dedos escorrem
por entre seus
lábios.
Um gemido silencioso,
expressivo.
Sua mão toca meu corpo
num movimento repetitivo
que me acende.
Beijos molhados
enchem minha boca
de um fluído
que só você produz.
Um veneno
capaz de me transformar num animal.
(qualquer animal que quiser)
Que sobe em você
e lhe faz soltar
gemidos que talvez
não quisesse que os
outros quartos ouvissem.
Por um momento,
"estar dentro de você"
não é só figurativo,
e você percebe
e você diz:
- Fode... Fode... !
Começamos uma sessão
de onomatopeias:
PLOC! PLOB! TAP! TAP!
TUM! TUM! NHEC! NHEC!
E você grita meu nome
bem alto.
É a anunciação do poeta.
Você abocanha meu pau
e engole o sumo,
a poesia.
-Você se tornou um ser rancoroso - ela disse.
Poderia ter dito a ela todos os motivos.
- Descobriu o Brasil. - falei.
MUITO TABACO NO BOLERO
Você só precisa ser grande. Pensar alto. Não.
Será que pessoas nascem com baixa auto-estima? Ou será simplesmente aquele episódio da sua infância em que a mãe da garota que você gostava resolveu contar para todo mundo sobre sua paixonite impossível e todos começaram a rir, enquanto você se escondia atrás da porta? Nunca resolva fazer uma biografia sua depois de ler livros psiquiátricos. Rejeições geram traumas e causam leves incômodos, como: sempre se apegar fervorosamente a primeira pessoa que lhe dá uma atenção especial. Pare de pensar que todo mundo que ficar com você. As vezes uma boa conversa resolve.
Você só precisa ser grande. Pensar alto. Não.
Tudo é culpa da saudade, que na maioria das vezes se encontra em algum retrovisor. Eu realmente sofro, por me apegar tanto as pessoas, eu juro é irracional. O endeusamento, os poucos encontros, o fim trágico, que nem um encontro do bosque os faça voltar a se falar.
Ela me ensinou não esperar muito dos outros e sempre muito de nós. Amávamos quem nos rejeitava e isso nos unia.r Trágico, quando começamos a sonhar. Pois nesse mundo, algo há de valer a pena. Carrego outros gurus além dela. Outro dia minha mãe me disse "desculpa" antes de mim. Me ensinou mais o que anos de estudos. Coisas que não são fáceis quando ser é pobre e nortista.
Você só precisa ser grande. Pensar alto. Não.
É como brasa
que forte, queima.
Outro dia ela me
disse que me amava.
Perplexo, achei
que conseguiria responder.
Abracei-a e pela primeira vez
larguei as palavras.
No meu silêncio
mil palavras são ditas.
Cada piscada é um
futuro esquecido.
Cada um trancado no 
seu quadrado.
Toda loucura será perdoada.
Agora grite, grite o mais
alto que puder.
Grite até te chamarem de louco.
Agora, bata a cabeça na parede
seja refrescado pelo seu sangue,
uma dor menor que o acompanha
em toda sua vida.
O metal encontra seu corpo para
um desenho escroto e eterno.
Vá ao banheiro e tome os remédios
que não curam a ferida que não
é da carne.
Continuar a gritar e ser louco
já é paz de espírito.
E se acharem ruim, mande-os
a puta que os pariu, lá reina
a hipocrisia intelectual de
todos nós.
TIPO ISSO
Sendo marcado
à fé e fogo.
O ferro do meu
corpo lateja.
Fui encarcerado
nas grades do
meu ser.
E precisei lutar
contra os mais
fortes dos seres,
eu mesmo.
Depois do desejo, a ânsia.
Tudo ficou mais claro.
Disseram:
- Vinte um dias.
E o hábito estava feito.
O único problema é que já
completava anos.
Eis o beco sem saída. A Encruzilhada.
O fogo era mais forte do que eu,
mas a vontade de se queimar era intensa.
Sem salvação. Talvez.
A dúvida é uma mulher ingrata.
Quase sempre que parava era por causa dela.
Neste mundo o ódio era essencial
em um bom lutador.
O rosto da paz era cheio
de marcas
de tapas.
Precisávamos de sangue.
Questionavam nossa violência, mas
sequer se preocupavam com o quanto
apanhamos e as milhões de injúrias que
tivemos que engolir à seco.
Eu não tinha pena de matar,
eu até adorava.
Era lindo ver aqueles olhos que
antes se achavam grandes, se
humilhando diante do calibre que eu
pousava diante de suas cabeças.
Seu choro não me dava pena, ao contrário,
aumentava ainda mais o meu ódio,
a sede por sangue.
Passavam-se dias e minhas mãos
mesmo limpas, cheiravam ainda a carne
podre daqueles imbecis.
Quando questionavam meu ódio, eu respondia,
que era pelo mesmo motivo que não
colocava um pedaço sequer de quiabo
na minha boca.
Me causava náuseas aquele tipo de gente
e eu odiava vomitar.
Matava pelo simples prazer de vê-los chorar.
Eu achava tudo aquilo hilário.
E eu adorava sorrir.
Você é capaz de se ferir?
Correr léguas atrás de algo
que até agora só permanece 
em sua mente?
Quantas vezes você abriu os
olhos e viu a luz forte que
entra pela janela?
A carne grossa que reveste
este teu coração de pedra.
O grito alto dado na esquina.
Dedos sobre cordas contam
uma história de algo que
aconteceu entre eu e você.
Sobre os vários arranhões deixados
em minhas costas.
Feridas causadas pela saudade sua.
Em seus olhos marejados
a mais extravagante das lágrimas
lhe escorria do olho.
Depois de tantas tormentas,
furacões emocionais,
depois do amor.
A felicidade se resumia
em uma lágrima.
E quantos homens lutaram
e cansados não puderam
ver aquela lágrima.
E as redes de prostituição,
o tráfico de drogas,
a corrupção,
me fizeram perder aquele momento.
Só quem se beneficiou com tudo
isso,
foram os quartos fechados,
os corpos mutilados,
os vários diários jogados.
Somente eles viram aquela
lágrima.
VÍCIO
É incessante o desejo
por um gole.
Não é uma garrafa,
não é um copo cheio.
É somente um gole.
Uma experiência.
Onde faz o amor?
Onde se faz amor?
Eu quero só
um gole.
Cada vez que choro
eles tiram-me da costas
alguns quilos.
Eles me deram força, 
para aguentar a carga,
as emoções a flor da pele,
o amor.
O 'não' é uma chuva de facas
eles seguem direto ao coração,
aargh...
Vocês não tem noção como dói.
Pelo caminho vejo seus sorrisos,
sem que saber que a piada sou eu.
O choro vem livre,
molha o rosto pra refrescar a
caminhada.
Eles seguem ao meu lado,
e cada vez que choro
eles me olham como aqueles
olhos de paz.
Sou fraco e continuo a carregar
o fardo.
Cada vez que sorrio,
sinto saudade do choro.
*
Lá estavam os três
de repente descendo
a esteira.
E para cada um 
o tempo passava
diferente.
Lá fora os carros
corriam na velocidade da luz
de seus faróis que aos
poucos mostravam
os vários buracos
causados pela má gestão
de nossas vidas.
De repente você tira
do bolso sua seda
Colomy.
Sabia que tinha
algo familiar no
teu olhar.
Que dependendo
do ângulo.
Mata.
As sobrancelhas
retilíneas como
um raio-laser
perfura
" a carne tesa
sob
a pele fina."
Peteca,
de um lado
para o outro.
És fruto do instante.
São nossas mãos dadas
na Avenida Goiás
que estampam a cara
da cidade.
Seu olhar é a cidade.
O título de capital mas
esse jeito de interior
que sempre faz a gente
encontrar a paz.
O infinito paralisou nossos sorrisos.
*
Eram 17:56h
caminhávamos pela Av. Goiás
seu novo corte de cabelo fazia
eu não parar de olhar para você.
As poucas palavras que
trocávamos nos tiravam
sorrisos bem exagerados.
Éramos observados.
Seu olhar é uma metralhadora.
50 tiros à queima roupa.
O Bandeirante foi testemunha
da nossa despedida.
*
As lágrimas engarrafadas
já me enchem cinco litros.


São anos molhados
chorando sem parar.


Ponho a garrafa na prateleira.
Penso, vou beber.

Algumas palavras afetam
quando ditas.

Mal colocadas são
punhais certeiros.
*
Erraram a porta
da minha casa e
deram o prêmio
ao meu vizinho.
A grama dele era mais verde.
Acertaram meu peito
às quatro da manhã.
Um tiro de palavras
sem carinho, vagas.
O sangue vermelho espalha
por sobre o chão.
O noticiário não cobriu,
as rodas de fofocas não comentaram.
Alguém bate na porta:
- Rafael!
Digo que não estou.
*
Ir te ver aborda toda uma logística, vontade e algumas manobras.
Como ver novela mexicana com você.
Tento te convencer de que tem coisas muito melhores do que isso.
Jaz na cama debulhada de lagrimas por causa do ultimo capitulo.
Me pergunto se precisas realmente disso.
Não.
Mas como se segura as lagrimas quando apertam o coração?
*
Quebro a cabeça quebro 
a mão com um simples
poema.
Tua voz me lembrava
um brega marcante.
Aquele que você recusou a dançar comigo.
Corria para você
e você
corria de mim.
Folhas dos livros desmembradas,
no bater daquele seio,
suspeito que tem muita ambição.
Com este propósito recolheu-se
no quarto, e ali recordou-se de tudo o que havia acontecido
desde que chegara em casa.
*
Prontuário
alega causas mortis,
ingeriu 
500g de poética
misturada a doses
cavalares
de solidão foi
um atentado violento
ao pudor do
poeta.
*
Na cidade ainda resta um pouco de esperança. 
Mesmo quando o farol não acende ou o corre não apareceu.
Estar na rua por sentir-se em casa.
O mundo não protegerá você do ódio que o sistema
te causará.
Eu entrei na rua errada e me esbarrei em você e
contei essa cena num poema inusitado. 
*
E ali dentro daquele carro
eu estava entrelaçado a Jessica
e vivia meu sonho adolescente
feito pelos carniceiros
da TV Brasileira.

O que para ela fosse somente
uma saciação de desejos
hormonais,
para mim, era a pura magia
do encontro das espécies e
de duas almas que antes
haviam trocado juras.

Acordei-me do devaneio
quando por fim gozei na sua boceta.
Mantive o ritmo para que ganhássemos
um tempo.
E ao perceber as pernas já bambas
e sem força, me indagas:

- Já gozou?
*
Eu corro horas da interação humana.
E esbarro na necessidade de comunicação.
Faço poesia.
E toda noite parece gigante e tediosa. 
Eu gritei seu nome e você não ouviu.
JACK*

elas comem 
ano após ano
e se transformam
em cada
jantar.

o que vai
fazer?

você chegava
a pensar
que o homem
não
conseguiria
alinha-los.

queixava-se

monotonia
da região.

Deus eu
estava
farto da vida.

então
fomos até a esquina
comprar
bebidas na distribuidora.

o suor se
enregelou
em nossas frontes
e, subitamente,
todos estavam
tão chapados
que as necessidades
usuais
foram dispensadas
e nos
concentramos
nos assuntos
de interesse imediato.
Íngreme*

O bolado,
entre você e eu.
O dechave,
do teu corpo,
e o enlace
do nosso amor.

Os farelos que encontrei
no bolso da mochila
me deixaram mais vivo,
assim como o beijo que me
destes na despedida
de Altamira.

Você pedindo mais,
debruçada sobre
a máquina de lavar roupas,
escondidos do mundo.

Quando eu prendia
o ar enquanto
os teus beijos me
invadiam a mente.
COMO VIVER SEM AR*

Primeiro você faz 
uma pinça com os dedos
indicador e polegar
o pressiona o nariz.
Após alguns minutos
você sentirá tudo
que o amor é capaz
de fazer sem usar
as mãos.
O engasgo,
os batimentos acelerados,
a quase morte.

Eu vi gente viver
assim por anos
e ou outras morrer
em segundos.
*
A pedra, o pulso,
os socos.
A casa do João,
a casa dá Gracie,
a casa Morgana.
Os banheiros que tomei banho,
as camas onde dormi,
não eram nada
quando diziam
que minha cabeça era grande,
minha orelha era grande,
minha boca era grande,
eles estavam dizendo
que eu era grande.

Diante de todos que
vieram antes de mim
de você e de mais
ninguém.
Quem era eu?
Eu era nada que
você soubesse ou
inventasse ou imaginasse.
Eu era perdido,
um louco,
eu era poeta.
*
Você sobe o mirante
e observa a cidade
em cima da cabeça
do meu pau.
Cavalga por entre 
ruas de desejo e
chega ao êxtase
quando a estrela
maior da manhã
lhe invade o útero
e principia um
novo dia.
Que você destroi
com uma pílula
no dia seguinte.
*
Até a vida pode
ser uma novela.
A maior de todas as sagas.
Mas alguns capítulos
podem ser reinventado 
gerando desentendimentos
com leveza.
Peças letais da história.
E agora, ele também
é amado.
E isso os dois têm
muito mais a mostrar.
O poder dos dois.
A dança.
Estrelas podem conquistar
você.
Um cara bonito,
é inexplicável perder
a autoestima.
*
Enrolava em alguns guardanapos,
nada além de muita maconha.
Como se não passasse de um
vagabundo na cidade.
Apenas ria, saltitava,
gaguejava e agitava
as mãos.
Traduzido por Paulo Leminski
em um livro-fantasma
à sombra de veneráveis carvalhos.
DEIXE O OGRO EM CASA*

Milagres,
estudo revela que 
o cérebro aumenta.
A sensação do vazio
é uma doença grave
permitindo viver,
me unir, único.
O universo conspira para
que esse sentimento
simpático, sensível
e bom moço,
seja sentimento forte,
o melhor do jogo.
Tem segredos que a gente
só aprende todos os dias.
Só assim para aguentar
o inverno.
Colher flores virou uma arma,
para viver, assumir.
Para mim, ofereceram as várias
faces de pessoas dizendo
mas.
Não gostava da ideia,
tinha uma arma, usa.
Eu estava com desejo.
Melhor do não, nunca.
Eu não preciso ser, hoje,
desfeito.
Que tal uma xícara de chá?
RAFAEL*

Pobre pássaro que resolveu
mudar suas condutas por causa
da novas leis de tráfego aéreo.
Achou que podia caminhar no meio
do terrestres sem ser reconhecido,
tal foi sua surpresa quando te deixavam
de lado.
Como podia uma ser de asas
ter tanta audácia?
Resolver se submeter
aos seres que eram tão grudados
ao chão?
Os seres tão limitados?
O pássaro se questionava
todos os dias.
Nunca chegava a uma resposta
digna.
Que o fizesse voltar a voar.
E o pássaro seguia como
um bípede.
Ao ponto de um dia,
acordar e de repente
não lembrar-se mais
que um dia
voou.
*
Um tiro pro alto
e
todo mundo corre.

Um tiro no peito
e
estou livre.
*
Dou o último trago
do teu beijo
e vejo que gostas 
de ser tragada.

Rasgo folhas
com poemas escritos
para você.
Dessa vez,
você vai sumir
do mapa.

Os poetas bons estão
na boca do povo.
Os melhores estão
morrendo nas suas
casas.
*
"Mil coisas, mil versos. Estar ali era transformador. Eu estava em todos os lugares e sabia tudo. Eu não era nada, eu era muitas coisas e transcendia em cada nova delas. Eu já não era eu, nunca fui."
*
Quando disse,
"Parti",
veio a estranha
loucura de 
procurar uma
nova distração.

O vazio do
adeus
que não nos
demos.

A beleza incômoda
da bagunça que
preferimos deixar
para mostrar como
foi tudo no final.

Estar só
era lindo,
mas incerto.
E incertezas
eu colecionava
como um
profissional.
*
E não há outra
coisa senão chorar
inconsolavelmente,
copiosamente.
Chorar pelo 
medo,
saudade
de não sei lá o quê.
Engasgar
como só quem chora
pode engasgar.
E uma enxurrada
de secreções lhe
invadir as narinas
que nem esse
tempo seco é
capaz de secar.
*
Vivi o quanto pude.
Passei rápido pelo Centro.
Levei uma lembrança sua
comigo.
Eu fui seu dia ruim,
sua saudade esquecida,
sua decepção.
Hoje você me verá nos
papeis colados na rua.
Me verá em você.
*
É sempre um aperto
no peito.
Como se quisesse partir.
Me sinto deslocada,
diferente, como
se não fosse daqui.
Me apego a mim mesma,
mas até de mim quero
fugir. Ir embora.
Eu não escolhi viver,
mas eles não me veem
como ser.
Sou carne, desejo, um lance
qualquer.

PESADELO*

E se um dia a poesia desaparecer?
E a inspiração acabar?
Acabará meus sonhos,
minha esperança,
acabará meu amor.
Se a poesia desaparecesse
eu enlouqueceria
minha cabeça no vaso
eu enfiaria.

Me perderia de vez.
Seria internado.
Um caso perdido.
E se alguém perguntasse
o que teria acontecido.
Eles diriam:

" Foi falta de poesia."
*
Eu sabia o efeito que
ela causaria em mim. 
Quando entrou trouxe 
com ela o vento.
Nosso pior erro foi
ter dado nome as
coisas.
Fui eu, quem saiu
perdendo.
Já era noite quando
pensei em te esquecer.
De manhã já lembrava
de nossa noite na
varanda.

*
Hoje tudo é fogo
e você me queima.
E quando tudo virar água 
que você chova
em mim.
Injúria*

Calamidades
foram ditas.
Vamos,
seja verdadeira comigo,
em nenhum momento
quis que eu fosse embora?
Fala pra mim,
não minta.
Não é uma faca ou
um revólver.
São só palavras.
Fale.

Eu também já quis
que eu fosse embora.

Se não me aguenta,
me mande a puta que
me pariu.
Eu odeio o fato de
não saber o que sentem,
o que acham sobre mim.
Falem.
Mesmo, que seja
para dizer que eu
estou ficando
louco.
*
Acabei de sentar
em cima de um
Leminski.
Outro dia Vinícius,
Drummond e o 
Velho Buk, tornaram-se
forro para o meu colchão.
Nas noites de frio
Clarice Lispector
me aqueceu com
suas páginas.
Vai dizer que você
nunca bolou um
na Bíblia?
Um dia desses limpei
a bunda enquanto
Nicholas Behr
tomava seu caldo
de cana na Rodoviária.

Um escritor preso
em livros está
fadado ao fracasso.
*
Uma vida pacata.
Um cotidiano.
Tudo em preto e branco.
Canções para escutar,
uma rede a balançar.
Minhas pernas jogadas ao ar,
não me preocupo com o mundo la fora.
Aqui dentro o meu já anda atrapalhado demais

Você diz:
- Não vai ter copa!
Eu fico feliz:
- Tenho quarto, banheiro, colchão.

Protesto só a favor do amor.
Protestar só contra a minha dor.

Homenagem da Gyordane Camargo






*
Tudo era cedo.
O cheiro forte do suor
e a angústia acumulada 
por causa do tempo.

A vida tece
sobre mim uma teia
de relacionamentos
mal investidos.

Não
quero
que
leia
este
poema.

É pura saudade de você.
*
Um homem só tem
uma chance de fazer
algo eterno.

Na maioria das vezes
estamos cobertos de
nossas merdas diárias.

Mas um dia
quando menos
esperar.

Algo eterno fará você.

Uma chance
e tudo para dar errado.

CAROL

 Você vai me dizer que eu não sei cantar. Talvez tudo tenha  que um dia se mostrar. Tua vida se encontrou com a minha, em plena  multidão, v...