Profecia

Eis que surge o homem,
imperfeito, sem saber.
Quebrando as correntes,
caminha sem ver.

Eis que surge o homem,
pra lá, depois do monte.
Suas vestes são surradas,
ele não tem nome.

Traz consigo pouca coisa,
pois só tem duas mãos pra carregar.
Mas no peito leva um coração
que nasceu para amar.

Esse homem pode ser você, eu,
ou uma mulher.
Ele pode ser um deus,
ou quem quiser.

Eis que surge o homem,
vindo de uma mulher.
Eis que surge o homem,
e ele vem a pé.

 Sob o sono

Sob o sono que vem,
o último pensamento:
você.

 

Supermercados

Supermercados,
eles estavam aí quando chegamos,
vendendo seus enlatados e embutidos
e mais alguns enganos.

Vivíamos um Casa de Horrores,
embora nenhum de nós fôssemos atores.
Curtimos umas dores,
não colava comédia,
sorrir era privilégio de classe média.

Eles estavam iludidos,
achavam que eram ricos,
batiam panelas,
nós achávamos-os ridículos.

E como nós, estavam perdidos.
Ainda há tempo, irmão.
Caminhos estão aí todo dia,
e encruzilhada é coisa dos nossos guias.
Haja com sabedoria,
pois vem chegando sua hora.
Aprenda a chegar e
saiba a hora de ir embora.

O principal conceito da natureza é evoluir.
Quantas vezes me virei para sobreviver.
Algumas vezes só tinha palavras para comer.
Vários nós na garganta — eu quase desisti.

 SE VOCÊ QUER SER

Se você quer ser,
tem que aprender a ter.
Eles inverteram tudo,
escuta o que vou dizer.

Só essa semana,
mataram mais um.
Na rua de baixo
tem mais dois jurados.
Minha casa mudou de estrutura,
a frente dela parece uma cela.
E lá em casa eu e minha mãe
dizemos: prenderam os errados.

Foi viajando por aí
que entendi o valor da liberdade.
Conheça seu país
e descubra a verdade:
eles inverteram tudo,
sem dó, sem piedade.

Se você quer ser,
tem que aprender a ter.

 

Eles falam comigo
os pássaros que pousam
em frente à minha janela.

Eles têm uma mensagem para mim,
viram seus rostos e miram
aqueles pequenos olhos em mim.
Eles falam comigo.

Ouço suas canções
e não sei mais o que dizem.
Eles usam gírias que ainda
não conheço.

 

As máscaras

Hoje tirei o dia
para lavar as máscaras
que trago comigo.

A máscara que uso em casa.
A máscara com que vou na rua.
E a mais suja de todas:
a que uso para dizer:
Está tudo bem!

 

Queda do genocida

Beba água,
minha mãe falou.
Uma frase que nunca esqueci.

“Filho, jogue o lixo lá fora.”
Naquele dia comecei
a planejar a queda do genocida.

Tranquei-me no quarto.
Comecei a meditar.
Fui limpando qualquer bagulho
sem serventia no meu pensamento.

Primeiro dia,
tenho 3kg de sentimentos
para a conta do Presidente.

 

Não é para o Lula

De tempos em tempos
os seres humanos
têm que escolher.

Queria fazer
um poema de amor
e não de protesto.

Mas estou entre
vê-la beijando outro
e pensar na situação
política do país.

Canalhas
que não me permitem
sofrer por amor.
Lindíssima
que não me permite
pensar em política.

Cago nas regras
e me mantenho anarquista.
Cago nas regras
e de você não tenho
o beijo, delícia.

Seu olhar
me condena
em segunda intenção.
E o Estado
me condena
com manipulação.

 

Você é a dor

A agitação com os
novos participantes
é nítida.

As vozes se esbarram
para dizer tudo que
vem na vontade.

Estamos perdidos,
inclusive essas crianças.

Ela me disse:
— Você é a dor!

Não há receita
para ensinar artes.
Ainda não há resposta
à questão
ou provocação.

 

Galinhas e Tempo

As galinhas continuam
a ciscar e espalhar a terra.

Ando arrastando os pés,
talvez por isso
não se perde mais tempo
quando se descobre
outras formas de medir o tempo.

 

Ela passeia

O shortinho atolado,
mostrando a polpa da bunda.

Ela sabe como provocar
e passeia por todos os cômodos
com sua liberdade.

Eu observo,
na minha simplicidade,
com a mão já no meu pau.

— Me chama de pervertido.
— Digo que é melhor
do que aquelas porras de fazer escondido.

Na minha cabeça,
agradeço o elogio.
Ela pega no meu pau
e agradece o elogio.

Dou um tapa na sua bunda.
Sensual, ela fala:
— Para com isso!