quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

 INTERPRETAÇÃO DA PERFORMANCE BATEDOR DE BOLSAS DE DALTON PAULA


                                       (Retirado do site do artista: https://daltonpaula.com/)




A imagem que escolhi para fazer minha interpretação foi um frame da performance “O Batedor de Bolsas” do artista visual Dalton Paula. A obra que originalmente é uma performance gravada de 1 '30'', onde o artista aparece com um porrete de madeira nas mãos e olhos vendados, enquanto tenta acertar uma bolsa pendurada no centro do vídeo.

Lembrando brincadeiras como a da Pinha, onde o aniversariante tenta acertar um objeto cheio de doces com um porrete, Dalton traz uma outra lembrança imagética, a do racismo. Porém, esta atividade se presta a interpretar somente a imagem escolhida acima, imagem essa que permanece como capa que direciona ao trabalho em vídeo.

A imagem acima, traz um homem negro de costa, em um movimento com um porrete de madeira nas mãos, em oposição, do outro lado da imagem, podemos ver uma bolsa, um modelo destinado ao público feminino, num movimento de distanciamento da pessoa do artista. O cenário é neutro, o que permite o reconhecimento e a observação das duas figuras.

A primeira observação, a imagem nos leva muito a imaginar como uma brincadeira a ação do artista com a bolsa, mas traz um simbolismo ainda maior dos distanciamentos dessa personagem e o objeto bolsa. O Racismo estrutural presente no Brasil demonstra esse espaço e distanciamento que Dalton apresenta nesta imagem. Um distanciamento das condições primárias e ainda de  pertencimento a um grupo. O espaço mostrado, não fala só de quão foi difícil o artista acertá-la durante a performance, mas do distanciamento que todo o povo negro sofre para encontrar as melhores condições de sobrevivência e vida. 

A bolsa parece se distanciar do corpo negro, como uma negação desse status adquirido pela posse da Bolsa, ela como simbolo representante de uma casta, parece não pertencecer ao caminho do homem negro. A Bolsa se distancia de seu corpo, como as pessoas que o ultrapassam por ele nas calçadas e o olham diferente ou escondem suas bolsas em um movimento de medo. 

A personagem se encontra cega, não pode interpretar ou saber onde está, apenas tenta levianamente, intensamente, incessantemente acertá-la, esperando também que essa sorte o encontre também. Lembrando das dificuldades que as pessoas pretas tendem a passar, para tentarem se manter vivos através da sobrevivência. E mostra que cada vez mais, objetos como bolsas e utensílios criados para dividir pelo consumo, se tornam cada vez mais importantes do que a própria vida humana.  

O Batedor de Bolsas, poderia ser muito bem uma Ode aos trombadinhas que sobrevivem nas ruas e vivem de pequenos furtos de bolsas e carteiras. Mas a performance traz uma Ode de até quando trataremos este tipo de situação ao viés de quem teve a perda material, perda essa que nos faz esquecer até de nossos maiores problemas, a desigualdade social criada pelo acúmulo de riquezas.


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