segunda-feira, 6 de agosto de 2018

26 DE JULHO DE 2009

Diante do pé jambo
eu recebi um aviso:
NÃO SUBA NAQUELE CARRO.
Eu era jovem e só
tinha dezessete, não me
dava muito bem com 
avisos.

Estávamos na Princesa do Xingu.

Então a poucos quilômetros
para chegar na cidade, 
nossa caminhonete
capota.

Uma, duas.
Dez pessoas em cima
de uma L200.
Mais outras cinco
dentro da cabine.

O tempo de duração
entre o toque das minhas
mãos e o abrir dos meus
olhos.
Não explicam o espanto
de ver aquele carro dessas
duas formas sobre mim.

Salvo por uma erosão.

Fábio cortou os dois calcanhares.
Fabiano arregaçou a cara.
Thiago quebrou o calcanhar.
Cebola quebrou o braço.
Sorrayla desmaiou.
Três meninos da Serrinha 
foram jogados para longe.
Jubileu teve escoriações leves.
E aquela noite meu pulso
haveria de triplicar de tamanho.

Éramos os piores pacientes daquele dia.
Faziamos piadas das desgraças.

Minha mãe apareceu pouco
tempo depois, demonstrando
não ter se preocupado com nada.
E nem eu e nem ela
havíamos de saber explicar
porque em um momento
eu chorei abraçado a ela.

Na ambulância 
voltando pra casa,
lembro que não cago 
há quatro dias.
Minha mãe então diz: - Farei um chá para 
desinchar sua mão.

Então digo:
- Eu preciso cagar.

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