quinta-feira, 6 de novembro de 2025

 TEMPO

Cheguei ao fundo do
poço.
E daqui posso ver seus
olhos.
Eles são tomados por
uma extrema
alegria.
Cada degrau até aqui
foi construído com minhas
próprias mãos.
A única corda que me
salvaria,
está em suas
mãos.

 ÁRVORE

Quando era criança
descansava sempre
nas bordas de seu pés.
No encontrávamos no sítio
de meus avós, era um refúgio
um lugar onde eu podia ser eu.
Minha vida foi cravada
em sua pele.
Deixei com ela o segredo
do meu amor.
A bela vivia na cidade
fui obrigado a me mudar,
deixei-a lá junto da casinha de sapê.
Depois de anos estou de volta.
Ela continua a mesma,
as marcas do tempo a deixaram
mais linda.
Ele me maltratou um pouco.
Na sua pele, ela ainda
carregava os ferimentos
que um dia eu provoquei.
Eu fui infantil, estúpido.
Eu achei que o amor
que pensei ser certo, era a única coisa
a ser levada em consideração.
Ainda carrego comigo as lembranças
e espero que possas te dar
um abraço.

 WALY

"O real é oco,coxo,capenga.
O real chapa.
A imaginação voa."
Um corpo esquético na beira
do rio.
Nobre senhor da Árabia.
Baiano que foi criado
com orientais.
Criador da viagem
poética.
"se de supetão a lama endurecer
ficar dura que nem bronze
e eu não tirar mais o pé do chão."
Permanece em nós
fulguras, ó florão da América.

 Saudade quando bate

rouba pirulito de criança,
rouba beijo.
Saudade bate, mas também
faz carinho.
É escola, trabalho,
tempo de menino.
Tem namorada,
primeiro beijo,
roupa estranha,
rapaz faceiro.
Saudade bate,
bate até chorar.
Saudade bate,
mas não canso de apanhar.

 Reverbera

Caniço, enxada, solidão.
Rodando com a saia,
menina espera que possas voar.
Reverbera paixão.
Venham todos mostrar
as alegrias, os amores.
Que pulsam no Coração.
Reverberaaaaaaaaaaaaaaa.
Pato, Galinha, Rato, Sapo
e Macaco.
Filhos do Cão.
Poesia viva,
entrega em gomos.
Uni-vos oh, artistas para
mostrar quem somos.
Reverbera e desreverbera
Façamos tudo de novo.

 Eu tinha alguns poemas de fundo de gaveta que publicava num blog de vez em quando, mesmo com alguns elogios momentâneos eu tinha para mim que se aquilo não era publicável para alguns é porque eles estavam errados com seus elogios. Me diz, que não sonha com o seu nome estampado por aí? RAFA!

"Você não pode continuar-se maldizendo desse jeito. O que você escreve é bom, você vai ver vai dar tudo certo."
INÉRCIA.
Passar dias e dias bebendo e sempre que possível poder fumar algo que nos deixa calmo e assim bater continuamente teclas de um notebook de segunda mão que você espera que um dia possa lhe salvar. PASSO.
"Você está louco, jamais viverá disso."
Devaneios durante toda a noite. Caio sobre a mesa cheia de garrafas para poder pensar em algo que me faça caminhar, procuro entre os rostos do bar um significado para aquele noite. Um motivo para escrever.
Choro as lágrimas que um dia ousei esconder e que agora escorrem por escolha própria, me molham a barba cerrada e falhada.
"Eu tento."
Até ali saber o que eu queria era a pergunta mor, eu que era sozinho não tinha muito a perder.
Sobrou escrever novamente as experiências diárias do mundo livre.
Eu queria estar em paz, mas não conseguia.
Mas o que era a paz?

 SEGUNDA-FEIRA

Tristeza e Melancolia
tomam meu coração.
Argamassa encefálica
coração em combustão.
Fui eu o escolhido.
Quero levantar da cama.
NÃO
Quero abrir os olhos.
NÃO
Respirar. Dar Bom Dia.
Despertar. Viver a vida.
NÃO
Tristeza e Melancolia
coração pulsa
dizendo não.
São Titãs contra mim.
Porém não sou Zeus.
Tristeza e Melancolia
tomam meu coração.
Rafael Vaz

 ÉRAMOS JOVENS

O mundo nunca ia acabar,
éramos unidos,
fortes e imbatíveis.
Acreditávamos que andaríamos
juntos.
Era fácil aparecer nas fotos,
agradecer ao microfone,
elogiar.
Fora dos holofotes tínhamos
uma vida conturbada.
"Não posso atender agora,
liga mais tarde."
"Faz esse favor pra mim ?"
"Não, estou ocupado."
Éramos "amigos".
Não sabíamos, mas o próprio
destino nos tratou de separar.
Era isso que queríamos, nossos
sonhos realizados, trabalhar com o
que gostávamos.
De novo sentado e só com meu
computador, via toda a história
passar feito filme.
Éramos jovens,
não sabíamos o que era o amor.

 CHUVA

A primeira coisa da qual eu me lembro é da chuva. Somente a chuva, aquele que caía do telhado direto no chão de terra e fazia com que subisse aquele cheiro inconfundível de infância que todo mundo tem. Até mesmo quem já nasceu em apartamento sabia o que era aquele cheiro.
Naquele dia não havia chovido, o sol já ultrapassava as frestas das cortinas e os pássaros aquele dia já mostravam que o sortudo do dia era eu para receber seu mais lindo coral. Não era para ser um dia tão maravilhoso, levantei-me e escancarei as cortinas e aquela cegante rajada de luz branca invadiu minhas pupilas deixando-me cego por alguns minutos, com rapidez levei minhas mãos ao rosto, passei a ver o dia por entre meus dedos.
Lá embaixo o dia seguia como uma quinta-feira de sempre, alguns carros - poucos carros - passavam como de costume, os outros homens - milhares deles - seguiam em seus passos firmes sobre a calçada, levavam em suas mentes os problemas do trabalho, os problemas de casa, política, religião. O automático estava no ajeitar do nó da gravata, na olhada nas horas dos relógios, estava naquele dia.
Vou ao banheiro, dou uma cagada. Vou a cozinha e quase faço outra cagada, me contento com um pão queimado, bacon e ovo mexido. Poderia dizer que o dia seria muito longo. Penso nas várias maneiras de como evitar aquele dia. Penso na mais fácil delas. Fumo um baseado, ponho uns sons naturais no IPod e começo a meditar em Lótus, recebendo energias vitais para meu engrandecimento espiritual. O tempo para. Eu senti em mim. Abro os olhos e toda a minha rua está parada. Carros e homens param no tempo. Alguns pássaros tem seus voos paralisados.
E eu lembrava da chuva, que quando novo também parava diante de mim. Eu realmente adorava a chuva. Por isso eu também parava minha rua. Passava horas encarando homem por homem, tentando ver em seus olhos as respostas de suas aflições. A causa das suas vidas tão pequenas e seus egos tão enormes. Os porquês de tantas divisões, de solidão, de tanta pressa.
Por isso eu sempre fazia questão de lembrar da chuva. Até hoje ela não havia deixado de cair em cabeça nenhuma. Nem sabíamos, mas tínhamos tanto para aprender com ela.

 ERROR 404

Não é que eu tenha virado um vagabundo. Eu estou doente. E não foi do dia para noite. Quando pequeno já me sentia só. Ausente de respostas e provas concretas. Procurei todo esse tempo ser honesto e disposto aos outros para mostrar a importância do outro. O amor. Queria companhia,vida compartilhada. Ser amado. Nunca tive fé, o que eu sempre tive foi falta. Do toque, do olhar, da ligação inesperada. Cada olhar que se aproximava eu via o interesse. O que eu tinha a dar à elas ? Mas a falta ainda pulsava. Eu não descobria. Estou doente. E não sei de quê. Qual a eventual função de tudo isso? Qual minha função? Desculpe à todos, mas algo morreu dentro de mim. A alegria e a disposição já são forçadas. Manobras medíocres de tentar ser aceito. Ser amado. A clausura torna-se uma manobra as vezes aceitável. O quarto escuro, a posição fetal, fotografia 3x4. Clarisse. Todos os planos falham e nos sobram essa escolhas infantis e loucas para alguns. Estou doente. O tratamento as vezes é inútil quando os exercícios são sozinhos. Você descobriu que as felicidades são diferentes. E que a sua não é desse mundo. É triste, mas é verdade. É babaca, mas eu me sinto assim. A falta. O erro cometido. A ausência do que nunca esteve aqui. O caracteres estão acabando, como as forças e as antigas paixões da literatura. A inspiração e a vontade de escrever já não vem quando eu espero. No final quero escrever uma mensagem legal de amor para despedida, para você lembrar de mim e decidir escolher uma vida feliz. Mas o computador para. Bato no teclado varias vezes para aproveitar os caracteres restantes. Tudo trava. Não me espanta que o fim seja assim. Como foi toda a minha vida. A falta.

 RECEITA DE POESIA

Levanto todos os dias automaticamente ás nove horas da manhã, resquícios da antiga profissão. Viro e percebo que Melissa ainda está em casa. Perguntei á ela por que não fostes a aula? Meio que resmungando baixinho ela disse que queria ficar em casa. Deixei, ultimamente as coisas não vinha dando muito certo mesmo, eu tava desempregado, sem um puto no bolso e ainda assim ela acreditava que eu era o melhor poeta do mundo. Quase sempre só tínhamos um ao outro, virei, peguei meu cigarro no criado-mudo do lado da cama, acendi, saiu muita fumaça, abri a janela e só então peguei meu notebook e comecei escrever algo pra ganhar uma grana do jornal.
Mas ainda me preocupava o fato de Melissa ainda estar em casa. Se não me engano ela havia dito que era semana de prova. Chacoalhei ela novamente:
- Melissa, tem prova hoje não?
-Me deixa em paz. Eu só quero ficar aqui na minha posição fetal de solidão.
-Na sua idade você ainda faz isso?
- Chorar na posição fetal é a melhor coisa a se pensar, pelo fato que você quer voltar a barriga da sua mãe e receber comida pelo umbigo e ter todo o conforto do mundo ali e toda a segurança de que você precisa. Você acha estranho isso o que estou te dizendo?
Trago o cigarro.
- Já li algo sobre isso. Aliás meu último texto pro jornal fala sobre isso. Chama-se 'Error 404' .
- Ah, li sim. Muito lindo o texto.
- É, me esforço ás vezes.
- Você não precisa, sabe disso.
- Também sei disso - me gabo.
- Meu escritor - ganho um beijo.
Mas recua dizendo que sou muito convencido. Infelizmente metade de mim é assim. Mas digo à ela que a outra metade é verbo, poesia e saudade.
- Poesia é realmente saudade. Já reparou?
- Do que nunca esteve aqui.
- Nossa, acho que nossas conversas podem dar em poesias publicáveis.
- Mentira, a gente foi que nasceu pra ser poesia.
-Sempre.
Nesse momento podemos ver qual é o verdadeiro ingrediente para toda e qualquer poesia.
Sorrimos.
- Ok, eu dito e você escreve?
-Sim.
- Então escreve aí.
Ass:
Melissa e Rafael

 EXPLOSÃO

Primeira visão:
Lanço uma bola a meu irmão.
Sou o caçula da grande família,
cresço livre e curioso.
Explodem as lembranças.
O pequeno CIBB, a Ir. Elza,
os primeiros amigos.
As reuniões de pais e mestres.
A paróquia, a catequese.
A hora do angelus.
Altamira me formava em
um observador de tudo.
O recreio, a missa,
minha família.
A galera do JUCEU.
As tardes de futebol na
quadra da Igreja, que depois
virou Pe. Tore.
Éramos os melhores do mundo,
tínhamos nossa própria Liga
dos Campeões.
A Copa da PJ.
É uma explosão.
Em Goiânia eu começo a
não só observar mas também
falar.
E escrevo tudo.
E todos já estão na minha mente,
me conhecem muito bem.
São as lembranças
que explodem todo dia.
É um cheiro,
um toque e
BUM!
Nostalgia.

  TEMPO Cheguei ao fundo do poço. E daqui posso ver seus olhos. Eles são tomados por uma extrema alegria. Cada degrau até aqui foi construíd...