TELHAS DE BARRO
Aos 23 anos, eu choro pelo menos três vezes por semana. Quase sempre pelo mesmo motivo. Medo causado pela incerteza. Isso devia soar positivo, usaria a incerteza para fazer algo e assim ganhar a certeza. Mas estou parado olhando os dois caminhos que agora se encontram na minha frente. Desejo de todo coração que um louco passe correndo e me leve junto com ele.
Aos 23 anos ainda não fiz muita coisa, nem pra mim, nem para os amigos e muito menos para meus pais e minha família. Eles nem sabem o que verdadeiramente se passa comigo neste momento.
Quando pequeno, em alguma briga que não lembro motivo, meu pai retirou a mala de cima do guarda-roupas e ameaçou ir embora de casa. Lembro que chorava muito, como agora. Meu irmão me acusava dizendo ser culpa minha e minha mãe e meus outros irmãos acalmavam meu pai. Choro mais ainda. Eu nunca consegui tomar muitas decisões corretas, eu só paro, choro e peço para que tudo isso acabe logo.
Eu não sei como minha mãe e meus irmãos conseguiram convencer meu pai, queria eles agora aqui para poderem me convencer também. Mas não estão. Há mais de um ano não falo com meus pais, de vez em quando falo com minha irmã pelo Facebook, mas é só pra falar do problemas de Altamira. Uns dias atrás criei coragem e perguntei como minha mãe estava, ela foi rápida em dizer "ela está bem". Sempre achei minha família muito fria, quase nunca falamos de sentimentos, nunca tivemos uma reunião de família, nunca nos perguntamos como nós estávamos. Éramos estranhos para nós mesmos. Mas nos amávamos, nunca entendi como, o peito dói de tanta saudade de cada um e de medo de achar que talvez não possa vê-los.
Ser sentimental demais tem sido um câncer que está me acabando aos poucos. Tenho feito exercícios para trabalhar auto-estima, exercícios para o corpo, exercícios e mais exercícios. Eu devia já ter tido algum pequeno resultado. Mas ainda continuo sentimental, e pequenos detalhes do cotidiano ainda me fazer chorar. Uma pequena ignorada, uma briga, o medo. Isso cria dentro de mim sentimentos feios, sobrecarregados, que achando que magoarão aqueles do meu lado, acabam machucando a mim. Eu choro e peço para que tudo aquilo passe.
Levanto a cabeça e vejo as telhas de barro. A última vez que dormi sob elas, eu estava feliz, em paz, sentia a leveza dos bons tempos com a felicidade. Hoje elas são testemunhas de um dia conturbado, errado, cheios de gritos e lágrimas. O choro é estancado para não acordar os seres que dormem no outro quarto.
Amanhã não mudará muita coisa, e estou com medo disso. O choro é livre. Minha mãe não sabe o que acontece comigo aqui, no Bairro Feliz. Fica difícil pra mim tomar decisões quando ainda não me encontrei, digo isso em todos os sentidos, acordar amanhã e perceber que isso não mudará vai fazer com que eu chore novamente.
Faço uma prece para as telhas, peço a elas que apaguem esse dia da minha vida.
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