quinta-feira, 6 de novembro de 2025

 RECEITA DE POESIA

Levanto todos os dias automaticamente ás nove horas da manhã, resquícios da antiga profissão. Viro e percebo que Melissa ainda está em casa. Perguntei á ela por que não fostes a aula? Meio que resmungando baixinho ela disse que queria ficar em casa. Deixei, ultimamente as coisas não vinha dando muito certo mesmo, eu tava desempregado, sem um puto no bolso e ainda assim ela acreditava que eu era o melhor poeta do mundo. Quase sempre só tínhamos um ao outro, virei, peguei meu cigarro no criado-mudo do lado da cama, acendi, saiu muita fumaça, abri a janela e só então peguei meu notebook e comecei escrever algo pra ganhar uma grana do jornal.
Mas ainda me preocupava o fato de Melissa ainda estar em casa. Se não me engano ela havia dito que era semana de prova. Chacoalhei ela novamente:
- Melissa, tem prova hoje não?
-Me deixa em paz. Eu só quero ficar aqui na minha posição fetal de solidão.
-Na sua idade você ainda faz isso?
- Chorar na posição fetal é a melhor coisa a se pensar, pelo fato que você quer voltar a barriga da sua mãe e receber comida pelo umbigo e ter todo o conforto do mundo ali e toda a segurança de que você precisa. Você acha estranho isso o que estou te dizendo?
Trago o cigarro.
- Já li algo sobre isso. Aliás meu último texto pro jornal fala sobre isso. Chama-se 'Error 404' .
- Ah, li sim. Muito lindo o texto.
- É, me esforço ás vezes.
- Você não precisa, sabe disso.
- Também sei disso - me gabo.
- Meu escritor - ganho um beijo.
Mas recua dizendo que sou muito convencido. Infelizmente metade de mim é assim. Mas digo à ela que a outra metade é verbo, poesia e saudade.
- Poesia é realmente saudade. Já reparou?
- Do que nunca esteve aqui.
- Nossa, acho que nossas conversas podem dar em poesias publicáveis.
- Mentira, a gente foi que nasceu pra ser poesia.
-Sempre.
Nesse momento podemos ver qual é o verdadeiro ingrediente para toda e qualquer poesia.
Sorrimos.
- Ok, eu dito e você escreve?
-Sim.
- Então escreve aí.
Ass:
Melissa e Rafael

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